O ditado popular "Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és", tem origem inspirada nos escritos de São Paulo à comunidade de Coríntios, capítulo 15, versículo 33.
Para uma melhor compreensão da frase, é interessante reconstruir brevemente o contexto em que ela foi escrita. Portanto, é necessário considerar diversos elementos, e o primeiro deles refere-se à cidade de Corinto no período em que o apóstolo Paulo a visitou.
Estamos falando do primeiro século da era cristã, entre os anos 50 e 60 d.C. Muito provavelmente, o apóstolo Paulo tenha permanecido nessa cidade, que à época era considerada grande, por mais de um ano. Porém, as cartas ou bilhetes que ele envia à cidade supõe-se que tenham sido escritos enquanto ele estava em Éfeso.
O período no qual se contextualiza a carta aos Coríntios é aquele no qual as comunidades cristãs estavam sendo formadas e, com frequência, os cristãos deparavam-se com questões sérias sobre a fé na pessoa de Jesus.
As respostas a essas questões eram ainda bastante frágeis, até mesmo porque tratavam de uma realidade social, política e religiosa marcada por diversas vertentes filosóficas e teológicas que nem sempre confluíam em uma mesma direção.
É diante dessa realidade que Paulo exerce sua missão como corajoso apóstolo. Ele foi um catequista dos povos, pois via as confusões que emergiam e, a partir de suas experiências e estudos, procurava dar respostas que orientassem as pessoas em direção aos valores capazes de, verdadeiramente, contribuir para a construção de uma sociedade mais fraterna e justa, segundo os princípios do Evangelho proclamado por Jesus.
Um alerta de Paulo
O capítulo 15 da Carta aos Coríntios é inteiramente direcionado ao tema da ressurreição dos mortos, questão que coloca em xeque uma verdade fundamental para a fé cristã.
É diante desse questionamento que Paulo escreve nos primeiros versículos deste capítulo, alertando sobre a presença de pessoas que defendem a inexistência da ressurreição, colocando assim em risco as verdades de fé anunciadas por Jesus — uma questão extremamente séria e de grande relevância.
Tendo visto este movimento, Paulo escreve: Não vos enganeis: “as más companhias corrompem os bons costumes”, frase que, segundo alguns estudiosos, é originária do poeta Menandro (ca. 342-291 a.C.).
Possivelmente, esse provérbio já circulava na época, e é com ele que Paulo adverte a comunidade de Corinto a não se deixar enganar pelas opiniões enganosas de alguns céticos a respeito da ressurreição universal dos mortos.
Ao sustentar concepções contrárias ao núcleo fundamental da fé cristã, tais pessoas, embora se declarem crentes em Cristo, mostram que não conhecem verdadeiramente o Deus definitivamente revelado por Ele. É, portanto, desta frase e deste contexto que se origina o ditado popular: “Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”.
Interessante notar que o texto bíblico vem escrito em forma exortativa, com um imperativo: “Não vos enganeis...”. Enquanto que, o ditado popular expressa um tipo de julgamento que, obviamente, pode ser interpretado de vários modos.
Talvez o mais importante seja considerar que, assim como é cientificamente comprovado que o “meio” não determina o caráter ou o comportamento das pessoas, também é comprovado que ele pode influenciá-los.
Portanto, que possamos ir além de qualquer tipo de julgamento destrutivo num exercício contínuo para nos tornarmos pessoas de “boa companhia”, promovendo o bem, sempre a luz dos valores do Evangelho que Jesus, os apóstolos, as apóstolas, santos e santos de todos os tempos proclamaram com suas palavras e ações.
Irmã Mery Elizabeth de Sousa, fsp, é bacharel em Teologia com especialização em Comunicação teórico-prático e mestranda em Exegese Bíblica no Instituto Bíblico de Roma.