No relato bíblico, alguém expressa o desejo de seguir Jesus. Contudo, ao ouvir que precisa deixar tudo para segui-lo, a pessoa se afasta por ser muito rico. Nesse contexto, Jesus faz a afirmação: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mt 19, 23-25 / Mc 10,23 / Lc 18,24).
Os discípulos se espantam com essa afirmação contundente de Jesus (Mt 19,25), pois para a religião judaica, a riqueza era vista como sinal de bênção divina. Em resposta ao espanto dos discípulos, Jesus reafirma sua posição sobre a riqueza, enfatizando a dificuldade que os ricos têm para entrar no Reino de Deus. A maioria dos estudiosos entende o dito de Jesus como uma hipérbole: impossível um camelo (animal) passar pelo buraco de uma agulha. Contudo, o dito traz uma verdade: há gente religiosa apegada à riqueza!
Jesus tinha uma posição clara em relação à riqueza: ela é um obstáculo para a pessoa entrar no Reino de Deus (confira: Mt 13,22; Lc 12,15; Lc 16,13; Lc 16,19-20). A tradição cristã neotestamentária critica o acúmulo de riqueza (1Tm 6,9-10; Tg 5,1). A primeira comunidade cristã superou a desigualdade social por causa de sua fé em Jesus (At 4,32-35). As pessoas se convertiam a Jesus e aprendiam a partilhar os bens. Hoje, as pessoas “buscam a Deus” para se enriquecer. Estranho e irônico não?
No contexto religioso atual, muitas igrejas adotaram a teologia da prosperidade, que, de forma simplificada, acredita que Deus deseja bem-estar financeiro, social e econômico para o fiel. Se porventura ele não o tem, é porque o diabo está interferindo, e a forma de remediar essa situação é o fiel fazendo um voto ou oferta a Deus – dando dinheiro! – para a igreja, com a promessa de que Deus lhe retribuirá com muito mais. Pergunto: esta teologia tem a ver com o ditado de Jesus que intitula este artigo?
Cristo jamais prometeu riqueza para seus discípulos. Ele, que nasceu pobre, viveu entre os miseráveis e morreu na mais absoluta desolação, não pode justificar tantos, que se dizem cristãos, usando o seu nome para satisfazer suas ganâncias. Estes usam Cristo como meio para o bem-estar. Seu deus é o dinheiro e não, Cristo. Para estes, Cristo se tornou meio e não fim! O evangelho deixa claro: riqueza só é bênção quando partilhada e jamais acumulada.
Frei Inácio José, OdeM é doutorando em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), bolsista FAPEMIG.