Artigos
Artigos

Série especial: “Faz bem à sua alma quem é misericordioso; quem é cruel, aflige sua própria carne”

Estude o provérbio (Pr 11, 17) que fala sobre misericórdia e crueldade

O povo de Deus, em sua caminhada de fé, usa várias expressões que são verdadeiros ensinamentos sapienciais calcados nas Sagradas Escrituras. O “marshal”, palavra hebraica para “provérbio”, é um discurso carregado de sabedoria e traz sempre uma palavra enigmática para fazer o ouvinte pensar e refletir.

A máxima “faz bem à sua alma quem é misericordioso; quem é cruel, aflige sua própria carne” está perfeitamente ligada à sentença contida no livro dos Provérbios 11, 17: “o homem misericordioso faz bem a si mesmo, o homem cruel destrói sua própria carne”.

A segunda frase do provérbio 11, 17 faz um paralelismo sinonímico com a primeira, ou seja, destaca o significado da primeira frase proferida, reforçando-a. A misericórdia é uma ação que beneficia tanto quem a oferece quanto quem a recebe. Não é apenas uma virtude para o outro, mas um caminho de realização pessoal e espiritual.

O termo hebraico “hesed”, traduzido como “misericórdia”, expressa um favor ou bondade divina imerecida, e vai além das expectativas humanas, sendo um atributo predominante de Deus para com o ser humano. A pessoa que possui misericórdia é capaz de encontrar sentido e paz no ato de fazer o bem, pois a sua vida se alinha com a vontade de Deus.

Vivendo num mundo desprovido de ética e compaixão, esse provérbio vem desafiar a capacidade humana de se compadecer diante dos sofrimentos alheios. No latim, o termo para misericórdia é “miser” (pobre, necessitado, miserável) e “cor” (coração), significando um coração que sente a miséria e o sofrimento alheio e age com compaixão. Diante de realidades dramáticas, que ferem a dignidade humana, a misericórdia é um grito de clemência para quem faz o bem a si e ao outro, construindo uma vida mais íntegra, marcada por valores que sustentam a convivência social.

A crueldade machuca não somente a vítima, mas corrói quem a pratica. A ausência de compaixão endurece o coração, destruindo vínculos, gerando isolamento, rancor e destruição da própria carne. Na dimensão ética, a pessoa que age com crueldade se fecha ao sofrimento do outro, rompendo os laços de solidariedade que sustentam a vida em sociedade.

Em síntese, o provérbio ensina que a maneira como tratamos os outros, seguramente repercute em nós mesmos: a misericórdia é criadora de vida, enquanto a crueldade gera morte. Quem cultiva a compaixão participa do bem divino e humano; quem faz opção pela crueldade caminha para a destruição de si mesmo.

 

Florice Alves Ferreira é religiosa da Congregação das Irmãs de São José de São Jacinto, SJSH. Licenciada em Filosofia e Bacharel em Teologia pelo Instituto de Estudos Superiores do Maranhão. Tem especialização em Formação para a Vida Religiosa pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (RS) e é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Teologia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

Site Desenvolvido por
Agência UWEBS Criação de Sites