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Série especial: “Julgar as profecias e não os profetas”

Conheça o significado do provérbio “Julgar as profecias e não os profetas”

A sociedade moderna acreditava que, com o império da razão, a religião cairia em descrédito. No entanto, a pós-modernidade provou o contrário: o fenômeno religioso continua forte e relevante na vida das pessoas.

Hoje vive-se um “vale tudo” religioso. Contudo, é difícil perceber, entre tantas propostas, o que realmente vem de Deus e o que não lhe pertence.

Muitas vezes, ouve-se o ditado “julgar as profecias, e não os profetas”, como se os profetas não fossem responsáveis pela Palavra de Deus que transmitem. No entanto, a Bíblia nos ensina exatamente o contrário: o profeta é responsável pela profecia.

Em 1 João 4,1, a Palavra de Deus nos alerta: “Amados, não creiais em qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas saíram pelo mundo!” Para entender este versículo, é importante ler o trecho completo (Cf. 1Jo 4,1-6), onde se percebe que os falsos profetas eram aqueles que negavam a divindade de Jesus, ou seja, aqueles que anunciavam que Jesus não era o Verbo encarnado.

Hoje, muitos grupos religiosos têm um discurso sobre Jesus que distorce sua verdadeira identidade divina, transformando-o em um simples símbolo de prosperidade e realização material, ou num revolucionário político, em vez de reconhecerem que Ele é o Filho de Deus, feito humano para a salvação de toda a humanidade.

É comum as pessoas associarem a profecia à adivinhação. Não é à toa que em algumas igrejas se faz uso de "revelações" sobre a vida pessoal das pessoas.

Contudo, biblicamente, profecia significa falar em nome de Deus: o profeta é aquele que transmite a palavra divina para uma situação concreta de crise em que seu povo se encontra.

Na assembleia, o apóstolo Paulo recomenda que as pessoas julguem as profecias (Cf. 1Cor 14,29-33). Ele também exorta que as profecias não devem ser desprezadas, mas examinadas, e aquilo que for bom deve ser guardado (Cf. 1Ts 5,20-21), reconhecendo que, mesmo entre as profecias autênticas, podem surgir palavras que não são adequadas para a Igreja.

Jesus também adverte contra os falsos profetas (Cf. Mt 7,15), que se disfarçam de piedosos, mas comportam-se maldosamente. No Antigo Testamento, é ensinado que, se alguém fala em nome de Deus e sua palavra não se cumpre, essa profecia é falsa (Cf. Dt 18,22).

Em resumo, não é porque alguém fala em nome de Deus que sua mensagem é verdadeira. Com um mínimo de discernimento, é possível perceber que muitas igrejas que usam o nome de Jesus para promover prosperidade, justificar a violência ou alimentar preconceitos e moralismos distorcem radicalmente a mensagem do Evangelho, que deseja vida plena para todos. 

Jesus ensina o caminho para distinguir um profeta verdadeiro do falso: “pelos seus frutos os reconhecereis” (Cf. Mt 7,20). Se existe coerência entre pregação e vida; santidade pessoal no pregador e comunhão com Deus, a palavra profética, defensora da verdade, do bem e da justiça para todos, haverá de resplandecer e convencer a quem ouve.

Talvez sejam os que levantam a voz contra a violência e a injustiça; promotores dos direitos humanos e defensores das causas ambientais; líderes religiosos plenamente que transparecem coerência entre vida e anúncio; pessoas simples de nossas comunidades, que possuem palavras e gestos consoladores aos sofredores.

Quem, para você, seriam os profetas que Deus tem suscitado no mundo atual?


Frei Inácio José, OdeM é doutorando em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), bolsista FAPEMIG.


 

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