É muito comum ouvir esse jargão de que “o dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Tm 6,10). Mas como ele poderia ser a raiz de todos os males se o mal existia bem antes dele? Se ele fosse a raiz de todos os males, bastaria eliminá-lo e o mal deixaria de existir. Mas sabemos que não é bem assim. Calma! Vamos juntos refletir um pouco sobre esse assunto.
O dinheiro em si não constitui nenhum mal. Ele surge da necessidade de padronizar e quantificar valores que durante mais de seis séculos funcionou como troca de bens e serviços. Foi o desenvolvimento da cunhagem que permitiu cunhar as primeiras moedas em metais de ouro e prata, por causa de sua resistência e valor.
As primeiras moedas foram cunhadas por volta do século VII antes de Cristo, na Lídia, atual Turquia. Se pensarmos que o dinheiro é a raiz de todos os males, então o mal passaria a existir a partir desse período. Mas sabemos que não é bem assim. Portanto, não podemos interpretar a Sagrada Escritura de forma literal.
O dinheiro se torna fonte do mal quando usado de má-fé para oprimir os mais pobres; pagar salários injustos em vista do acúmulo de capital; destruir o planeta em detrimento da vida humana; armazenar riquezas ilícitas.
Quando se trafica órgãos, crianças, adolescentes, jovens e adultos para aumento de capital. Também é raiz do mal quando é roubado dos inocentes, como os aposentados, ou fruto de trabalho escravo etc. Quando ele é usado corretamente, pode salvar vidas e facilitar transações comerciais de modo global. Então, por que dizemos que ele é a raiz do mal?
Vilão ou mocinho?
O dinheiro como raiz do mal está relacionado ao fato de que, ao colocá-lo no lugar de Deus, ele torna-se o seu tesouro. Na primeira carta a Timóteo, o alerta é para que o cristão não se deixe ser corrompido pela ganância do dinheiro. Isto se refere não só à riqueza material, mas tudo o que ocupa o primeiro lugar em nossa vida. Um dinheiro usado em favor da vida não pode ser raiz de algum mal, desde que a fonte seja honesta, é claro.
O jovem rico é um exemplo paradigmático de alguém que ama seus bens mais do que a Deus. O dinheiro não era impedimento para ele entrar no reino de Deus, o que o impediu foi o fato dele não renunciar ao dinheiro em favor do reino para ele e para os pobres. Jesus convida-o a desprender-se dos bens em vista da vida eterna, mas ele não o faz (Mt 19,19-2; Mc 10, 17-22; Lc 18, 18-23).
Atualmente é comum encontrar o dinheiro como raiz do mal quando há homens e mulheres que vendem curas, pedaços do céu etc. A vida é dom gratuito de Deus, a saúde também. No início do cristianismo, havia quem pensasse que era possível comprar o Espírito Santo, como encontramos nos Atos dos Apóstolos, quando Pedro e João evangelizavam na Samaria.
Um certo Simão ofereceu dinheiro em troca do poder do Espírito. Ao ver que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos, ele disse: “Dai-me também a mim esse poder, para que aquele a quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo.” Mas Pedro replicou: “Vá contigo o teu dinheiro para a perdição, pois julgaste comprar o Dom de Deus com dinheiro” (At 8, 19-20).
Poderíamos citar aqui muitos outros exemplos em que o dinheiro é a origem do mal. Mas, convém deixar que você, leitor, busque na Sagrada Escritura e faça uma nova hermenêutica ou aplicação pastoral dos casos em que o dinheiro é, de fato, origem do mal.
No tocante ao aspecto pessoal, cabe a cada cristão não permitir que o dinheiro ocupe o lugar de Deus na sua vida. Se deixares que o dinheiro se torne a razão da sua vida, seguramente vai perdê-la.
Não só no aspecto biológico, mas também estará se desviando das virtudes teologais, as quais te levam à santidade quando vivida em grau máximo, que são a fé, a esperança e o amor. Elas te ajudam a manter a temperança e permanecer à imagem e semelhança de Deus em vista do bem maior.
Maria Eliene Pereira de Oliveira é irmã Paulina, mestranda em Teologia Sistemática pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), bolsista FAPEMIG. Email: [email protected]