Provérbios 24,16 faz parte de uma seção intitulada de “palavras dos sábios” (Pr 22,17 – 24,22).
São declarações breves e concisas, fáceis de memorizar. O foco da seção é transmitir sabedoria para a vida cotidiana, cobrindo tópicos como relacionamentos, trabalho, riqueza, justiça e conduta moral. Em sua essência, essas “palavras dos sábios” visam ensinar o comportamento correto, a virtude e a religiosidade de acordo com os valores da antiga tradição da sabedoria israelita.
No texto de Pr 24,16, a segunda linha do provérbio contrasta ou contradiz a primeira linha. Isso cria um senso de equilíbrio e ênfase por meio dos opostos: justo-ímpio, cair-erguer. Esse recurso literário serve para aprimorar suas lições a partir do destaque de contrastes entre comportamentos de sábios e tolos, de justos e ímpios, e para encorajar o leitor, a considerar as consequências de suas próprias escolhas e ações.
Na primeira parte, os sábios afirmam que “ainda que o justo caia sete vezes, tornará a erguer-se”. O “justo” se refere a uma pessoa que se ajusta ao projeto de Deus, ou seja, que tenta viver de acordo com os caminhos do Senhor. O provérbio alude à experiência de tal pessoa. A expressão “cai sete vezes” não é literal, mas representa a ideia de que mesmo a pessoa mais virtuosa enfrenta reveses, desafios e problemas na vida.
O contraste da expressão “ergue-se novamente” destaca a resiliência, perseverança e determinação da pessoa justa para superar a adversidade.
Mesmo a pessoa mais virtuosa enfrentará provações, mas sua força de caráter e confiança em Deus a capacitará a perseverar e superar as dificuldades.
Portanto, o provérbio transmite a mensagem de que os justos enfrentarão muitas dificuldades, até mesmo repetidas, mas, no final, triunfarão. No contexto da antiga sabedoria israelita, este provérbio teria fornecido encorajamento e esperança para aqueles que buscam viver fielmente a vontade de Deus, lembrando-os de que tropeçar não significa derrota final. O provérbio oferece uma mensagem de resiliência frente aos desafios da vida.
A segunda parte afirma que “os ímpios são arrastados pela calamidade”. Os “ímpios” se referem àqueles que rejeitam os caminhos de Deus e praticam a injustiça contra o próximo. Eles são a antítese do “justo” mencionado na primeira parte do versículo.
A expressão “caem em calamidade” sugere que os ímpios não apenas experimentarão reveses temporários, mas enfrentarão ruína e as consequências de suas ações injustas.
Este contraste destaca um tema central do versículo: os resultados finais para os justos e para os ímpios são fundamentalmente diferentes. Os justos podem enfrentar dificuldades, mas prevalecerão, enquanto os ímpios serão, no final, capturados na armadilha por seus próprios erros.
Esse provérbio forneceu encorajamento e advertência para o povo da Bíblia, ele assegura aos justos que sua fidelidade será recompensada, enquanto procura dissuadir os ímpios de seu caminho autodestrutivo. Há consequências reais para as escolhas que fazemos na vida.
O provérbio usa imagens vívidas e contrastantes para comunicar a sabedoria de que os perversos não podem escapar das consequências de sua perversidade, enquanto os justos serão sustentados em suas provações. Embora enraizados em um contexto cultural antigo, o provérbio oferece uma sabedoria que ainda é amplamente aplicável e significativa para os leitores de hoje.
Aíla L. Pinheiro de Andrade é religiosa pertencente ao Instituto Religioso Nova Jerusalém. Possui Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará, bacharelado, mestrado e doutorado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). É professora no Programa de Pós-graduação em Teologia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). É autora de Paulinas Editora.