O povo, na sua simplicidade, tem o costume de depositar ofertas aos pés das imagens dos santos, pedindo a intercessão deles pelas suas causas.
Quando se deposita uma grande quantidade de dinheiro, demonstra-se ou que a causa é urgente ou a tentativa de “forçar” o santo para que ele alcance o mais rápido possível aquela graça. Esse ditado popular não aparece na Bíblia; contudo, há textos que podem ter inspirado o surgimento deste ditado.
No Evangelho de Mateus, Jesus exorta os seus discípulos a não darem esmola diante dos homens, a fim de serem reconhecidos como bondosos pelos demais (Mt 6,1); além disso, critica os fariseus que fazem tocar a trombeta quando estão esmolando (Mt 6,2). “Tocar a trombeta” pode significar duas coisas: ou eles tocavam o shofar (pequeno chifre de carneiro) quando estavam realizando o ato de esmolar ou quando esmolavam no templo, colocavam grandes quantias de tal maneira que fazia muito barulho no gazofilácio (lugar onde se depositam as ofertas, que tinha o formato de trombeta, conforme nos indica a arqueologia).
Desta forma, Jesus está censurando a intenção errada dos fariseus de quererem aparecer diante dos outros na prática da caridade (Mt 6,5.16; 23,5).
Por isso, Jesus orienta os discípulos que a esmola deve ser dada em segredo (Mt 6,4), pois o Pai do Céu, que vê as nossas ações secretas, nos recompensará. Em Lucas 21,1-4, Jesus elogia a oferta da viúva, pois ela partilhou daquilo que tinha, ao passo que os ricos, que depositavam grandes quantidades, davam do que lhes sobrava.
É preciso ter cuidado com aqueles que fazem grandes doações de dinheiro para aparentarem-se de bonzinhos diante da sociedade, mas que no fundo não têm intenção verdadeira de ajudar o próximo, pois essas esmolas não brotam da espontaneidade do coração, nem do sentido de solidariedade com quem sofre. Muitas vezes, pode ser uma forma de abatimento de impostos, lavagem de dinheiro etc.
A verdadeira caridade cristã deve transparecer diante dos demais (Mt 5,6), mas não de forma a angariar o reconhecimento diante da sociedade. Quem deve reconhecer e, na verdade, já reconhece as nossas intenções é o Pai do Céu.
A esmola era uma prática de piedade da religião judaica, e o cristianismo assumiu-a como sua, sobretudo no tempo litúrgico quaresmal. Pela esmola, corrigimos a nossa relação com o próximo, sobretudo o mais pobre, superando o nosso egoísmo e partilhando com o necessitado não aquilo que nos sobra, mas aquilo que faz parte dos nossos bens e que, injustamente, o irmão necessitado não possui.
Frei Inácio José, OdeM, é doutorando em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), bolsista FAPEMIG.