Veja essa declaração de Jesus em João 8,7: “Aquele dentre vós que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra”. Em bom português, você poderia dizer: “quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra”. Ou seja, a fala de Jesus faz com que pensemos nas “rachaduras” do nosso telhado da vida.
A cena em questão é essa: uma mulher pega em adultério é trazida diante de Jesus por escribas e fariseus, que, armados de pedras e muita hipocrisia, buscam testá-lo. Jesus, com a serenidade de quem sabe das coisas, lança o desafio: “aquele dentre vós que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra”. Resultado? Pedras ao chão e acusadores saindo de fininho.
Esse acontecimento, que revela nosso “teto de vidro”, nos lembra de nossas próprias fragilidades. Afinal, quem nunca cometeu um deslize que atire… bem, você entendeu. Jesus não apenas expõe a hipocrisia dos acusadores, mas também nos convida a uma autorreflexão: antes de julgar o outro, que tal dar uma olhada no próprio telhado?
No contexto teológico de João, essa passagem destaca a misericórdia divina e a necessidade de reconhecermos nossas imperfeições. Jesus não veio para condenar, mas para oferecer graça. E convenhamos, é um alívio saber que, mesmo com nossos telhados trincados, ainda temos chance de redenção.
Então, da próxima vez que sentir vontade de lançar uma pedra, lembre-se do seu próprio teto de vidro. Não sei se você vai sentir vontade de cantar a música “quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra”, mas, pelo menos, reflita: parece fácil julgar o outro, difícil é lidar com os estilhaços das nossas próprias imperfeições.
Em suma, Jesus nos ensina que, com o teto rachado ou não, em vez de apontar o dedo, devemos estender a mão. Porque, no fim das contas, estamos todos no mesmo barco, navegando com nossos telhados de vidro e buscando um pouco de luz divina para iluminar o caminho e nos restabelecermos.
Rogério Goldoni é professor na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), hipnoterapeuta, possui Mestrado em Teologia Bíblica e integra, junto ao CNPq, os grupos de pesquisa na área da poética hebraica.