Tradução livre do texto hebraico: “Porque de fato semearam vento, tempestade recolherão”. A expressão muito popular “Quem semeia ventos, colhe tempestades” tem origem bíblica, mais especificamente no livro do profeta Oséias 8, 7.
É interessante que o texto na sua língua original apresenta essa expressão quase sem nenhuma diferença. Mais interessante ainda é perceber quão antigo e quão distante do contexto atual a frase foi elaborada.
O livro do Profeta Oséias faz parte do Antigo Testamento, do bloco constituído por 12 livros que recebem o nome de Profetas menores. O conteúdo do livro de Oséias é distribuído ao longo de 14 capítulos escritos, muito provavelmente, entre os anos de 750-722 a.C., um período da história de Israel de grandes conflitos, transgressões religiosas e corrupção moral.
Segundo alguns estudiosos o livro de Oséias é uma compilação de textos elaborados por diferentes autores, é interessante notar que a introdução deste livro descreve uma suposta experiência amorosa não correspondida, um marido apaixonado, traído pela esposa que se deixou seduzir pelos encantos daqueles que se tornaram seus amantes.
A história usa de metáfora para demonstrar a relação entre o povo de Israel e Yahweh. O marido, Yahweh, cultivava pela sua esposa, povo de Israel, um grande amor que parece não ter sido o suficiente para sustentar a relação.
Dito de outra forma, o povo de Israel não acreditou plenamente na aliança que Yahweh havia feito com eles e deixaram-se corromper pelas ilusões dos ídolos e dos reis.
Yahweh, mantendo-se fiel a sua aliança, envia ao seu povo, sua amada “esposa”, profetas para que eles pudessem se despertar da inércia que não os permitiam enxergar o engano que estavam cometendo ao acreditarem mais no poder dos ídolos que na força do amor de Yahweh.
Diante desta realidade que o profeta Oséias exorta em modo particular nos capítulos 8 – 10, os sacerdotes, a monarquia e ao povo daquele período, a abandonarem a idolatria, considerada por ele uma espécie de prostituição. Importante notar que ao usar o termo “prostituição”, o profeta não está se referindo somente ao ato de adorar imagens de ídolos, mas deseja chamar atenção inclusive aos atos de se estabelecer alianças políticas que geravam injustiça social, tendo em vista os interesses da minoria em detrimento das necessidades da maioria.
Escolhas pessoais
É nesse contexto, não muito diferente daquele que se pode identificar atualmente, que um sábio compõe a frase: "Quem semeia ventos, colhe tempestades".
A frase, como se apresenta em estilo de literatura sapiencial, usa uma analogia que ilustra bem a dinâmica de causa e efeito da vida cotidiana. Assim, é fácil entender o valor metafórico das palavras: “Semear/colher”; “vento/tempestade”, que em modo positivo ou negativo está relacionado às escolhas e comportamentos pessoais, os quais terão suas consequências, por vezes, proporcionais, por vezes, desproporcionais.
O objetivo do profeta Oséias é claro: sua profecia exorta o povo de Israel, chamando a atenção aos princípios de suas escolhas, especialmente por terem se afastado da aliança de amor que Yahweh havia feito com eles, optando por seguirem caminhos de injustiça e de idolatria.
São justamente essas atitudes que Oséias condena, porque configuram a infidelidade do povo perante Yahweh, apesar de sua religiosidade. De fato, o povo de Israel permaneceu religioso, mas recusou Yahweh em sua vida política e cultual. Mas o que Yahweh desejava era muito mais do que a observância de ações religiosas.
O livro do profeta Oséias deixa bem claro que é o próprio Deus quem tem a iniciativa e deseja fazer uma aliança com o povo de Israel, povo que representa os povos de todos os tempos e lugares, é uma escolha gratuita da parte de Deus, com somente uma fundamental exigência: a fé!
Uma fé que possa “semear ventos” de criativa novidade para que nos dias vindouros se possa “colher tempestades” de fraternidade, justiça e verdadeira religiosidade.
Irmã Mery Elizabeth de Sousa, fsp, é bacharel em Teologia com especialização em Comunicação teórico-prático e mestranda em Exegese Bíblica no Instituto Bíblico de Roma.