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Série especial: “Quem vê cara não vê coração”?

Qual é o significado do provérbio “Quem vê cara não vê coração”?

Estamos diante de um provérbio conhecido, que pode ser compreendido em senso positivo ou negativo, geralmente causando surpresa àquele que fala e àquele que escuta. O texto bíblico que provavelmente serve de inspiração a este provérbio “Quem vê cara não vê coração” (1Sm 16,7) se encontra no primeiro livro de Samuel, capítulo 16, versículo 7:“Mas o Senhor disse a Samuel: “Não olhes para o seu aspecto nem para a sua alta estatura, porque eu o rejeitei. De fato, não é como o ser humano vê, porque o ser humano vê o que chama a atenção, mas o Senhor vê o coração”  (A Bíblia - Paulinas).

O contexto deste escrito é aquele no qual Samuel ungiu Davi como rei de Israel. É importante lembrar que Samuel era filho de Ana, uma mulher que por muitos anos foi estéril, sinal de maldição para a sociedade da sua época.

Mas ela e seu esposo, após muitos anos de espera e orações, foram agraciados com a chegada do seu filho Samuel, considerado um profeta que marcou uma importante transição da história do povo de Israel. A sociedade daquele período era governada por homens conhecidos como juízes, e Samuel fez parte desse grupo.

Tratava-se de uma espécie de conselho legislativo que estava à disposição do povo para ajudá-los a resolver questões práticas. Porém, o povo de Israel, vendo o desenvolvimento de outras nações que eram governadas por reis, pediu a Samuel que fosse eleito um rei para governá-lo.

Foi a pedido do povo que Samuel elegeu Saul como primeiro rei, mas este se corrompeu e, por este motivo, o Senhor enviou Samuel à casa de Jessé para escolher entre os seus filhos aquele que seria o novo rei de Israel.

Samuel, obediente à palavra do Senhor, foi até Belém, ao encontro da família de Jessé. Ao ver seu primeiro filho, Eliab, logo pensou que fosse ele o escolhido. Todavia, o critério válido ao Senhor não era aquele que considera os títulos ou as aparências humanas, mas as intenções do coração.

Na liturgia, este mesmo texto é lido no 4º domingo da Quaresma, do ano A, sendo colocado em relação com a leitura do capítulo 9º do Evangelho segundo João. Em ambas as leituras se apresenta a problemática do “ver” não com olhos humanos, mas com os olhos de Deus, Ele que “vê o coração”.

Numa compreensão dos textos litúrgicos, tanto Samuel quanto o cego de nascimento são chamados a “ver” de um modo novo, mediante a fé que vem de Deus. 

Este provérbio, ao mesmo tempo em que gera surpresa e até espanto, pode também nos motivar à prática da temperança, da cautela antes de concluirmos qualquer tipo de juízo sobre alguma situação, sobretudo em relação ao comportamento de alguém. Podemos, então, recordar o que diz Antoine de Saint-Exupéry: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” (O pequeno príncipe).

Irmã Mery Elizabeth de Sousa, fsp, é bacharel em Teologia com especialização em Comunicação teórico-prático e mestranda em Exegese Bíblica no Instituto Bíblico de Roma.

 

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