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Série especial: Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga

Entenda o que diz a Bíblia sobre “Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”

 

Esse é um ditado popular que, volta e meia, é citado como um alerta contra o excesso de trabalho. Às vezes, também escutamos o contrário: “Deus ajuda a quem cedo madruga”, provavelmente uma exortação para uma pessoa que faz corpo mole. 

Nas tradições bíblicas nós encontramos formas semelhantes dessas duas maneiras de pensar. No livro do Eclesiastes, lemos: “Vale mais a palma da mão cheia de descanso do que duas mãos cheias de trabalho e de perseguir vento” (Ecl 4,6). Sabedoria semelhante há no Salmo 127,1: “De nada serve levantar-vos cedo, retardar o vosso descanso, comer o pão das labutas! Ao seu amigo (de Javé) que dorme, ele o dará da mesma forma”. 

Incentivando o trabalho como forma correta ser fiel à Lei, o livro de Provérbios traz o seguinte ensinamento “Dormir um pouco, cochilar um pouco, e espreguiçar um pouco, de mãos cruzadas, e a pobreza chegará à tua casa como um andarilho, a indigência, qual velho guerreiro” (Pr 6,10-11).  

Se lermos esses textos fora de seus contextos vamos ficar em dúvidas quanto ao modo correto de viver. É melhor seguir Provérbios ou Eclesiastes? 
Uma frase ou um pensamento se torna um provérbio quando o povo gosta e começa a repetir. O livro de Provérbios é uma coleção de coleções, compilada por volta do ano 300 a.C. Nesse livro encontramos sentenças de sabedoria nascidas da vida cotidiana, como também a sabedoria oficial, como é o caso do provérbio citado, afirmando que a pobreza é consequência da preguiça. 

No período da dominação grega (333-167 a.C), o sábio por trás do livro do Eclesiastes, como também do Salmo 127, apresentam uma proposta de vida contrária à proposta dos gregos. Diante da busca desenfreada de riquezas e do acúmulo, os sábios propõem que as pessoas tenham equilíbrio na vida. “Eis o que o vejo ser bom: comer e beber, experimentar felicidade em todo o trabalho com que o homem se afadiga sob o sol” (Ecl 5,17).
Uma leitura fora do contexto gera preconceitos e discriminação contra os pobres. Cada texto precisa ser compreendido dentro do seu contexto de origem.


Maria Antônia Marques é professora de Sagradas Escrituras no ITESP (Instituto São Paulo de Estudos Superiores) e assessora do Centro Bíblico Verbo.

Para ler outros capítulos da Série especial: Sabedoria do Povo & Sabedoria de Deus, clique aqui

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