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Série especial: Não saiba tua mão esquerda o que faz a direita

Entenda o provérbio “Não saiba tua mão esquerda o que faz a direita” (Mt 6,3)

A expressão “não saiba tua mão esquerda o que faz a direita” está no Evangelho segundo Mateus 6,3: “Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita”. Jesus a profere de cima da montanha – como quando Deus dá as tábuas da lei a Moisés: “O Senhor disse a Moisés: ‘Sobe a mim, ao monte, e fica ali, pois quero te oferecer as placas de pedra, instrução e mandamento que anotei para os instruírem!’” (Cf. Ex 24,12) – ao grupo reservado de seus discípulos: “Tendo visto as multidões, subiu à montanha. Tendo se assentado, aproximaram-se dele seus discípulos” (Mt 5,1).

O assunto é a prática da justiça: “Tende cuidado de não praticar vossa justiça diante dos homens somente para chamar sua atenção!” (Cf. Mt 6,1), mais especificamente a forma certa de dar esmolas: “Quando deres esmola, não o anuncies a toque de trombeta” (Cf. Mt 6,2). Na cultura judaica da época, tanto de Jesus quanto dos discípulos, a esmola era o principal modo de uma pessoa relacionar-se com outra necessitada (o órfão, a viúva e o imigrante), formando, com a oração (a relação com Deus) e com o jejum (a relação consigo mesmo), um tripé que servia de guia e de sustentação para a vida do judeu praticante.

Mas a esmola sempre corria o risco de transformar-se, de gesto de piedade sincera, em algo meramente exterior e vazio, ou, pior, em algo cuja real finalidade era apenas a autopromoção, o querer “aparecer bem”, o que Jesus aponta fortemente como um perigo (Mateus 6,1: “Tende cuidado de não praticar vossa justiça diante dos homens somente para chamar sua atenção!”).

Curiosamente, a palavra “mão” não aparece no texto grego, mas talvez essa ausência queira reforçar a ideia de que não é a visibilidade que conta.

Mesmo não aparecendo graficamente, a “mão” está implicitamente presente e indica tanto a ação (age-se, em geral, usando as mãos) quanto a intimidade entre estas duas partes espelhadas do corpo humano, a mão direita e a esquerda, as quais estão constantemente em contato uma com a outra, seja quando alguém, por exemplo, segura algo, lava-se, faz um nó etc., seja quando bate palmas, cruza os dedos, reza etc.

Então, Jesus propõe que a esmola só será uma ação piedosa se for feita não com o objetivo de ser vista, mas sim com a intenção de ser uma ação generosa e discreta em favor de alguém necessitado, porque, no fundo, quem quer ajudar não se preocupa em ser reconhecido.

Para ler outros capítulos da Série especial: Sabedoria do Povo & Sabedoria de Deus, clique aqui.

 

Anoar Provenzi é revisor literário de A Bíblia, da Paulinas Editora.

 

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