A Sagrada Escritura está plena de histórias dentro de uma grande história: a história de salvação. Essa história de salvação é tecida no cotidiano da vida, onde na antiga aliança encontramos homens e mulheres expressando sua forma de relacionar-se com o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, e na nova aliança com o Deus de Jesus Cristo.
Nessa história de Deus com a humanidade, sempre houve quem ousasse camuflar-se para enganar os que abraçaram a salvação, e como as pessoas de bem só podem ser tentadas no mal travestido de bem, surgem os lobos em pele de cordeiro ou de ovelhas.
A metáfora “Sob uma pele de ovelha, muitas vezes se esconde uma mente de lobo” (Mt 7,15), ilustra muito bem uma realidade interna a que todo ser humano está propenso. Mas, o fato de estar propenso não significa que venha a se desenvolver.
Principalmente o cristão, chamado a ser coerente em relação ao que diz e ao que faz. Quantas vezes você já deve ter encontrado pessoas que aparentemente são dóceis, como as ovelhas, mas fazem coisas que jamais você imaginaria que elas fossem capazes.
Aparentemente são frágeis e delicadas, outras vezes fingem ser inocentes. Mas, na verdade, sua realidade interior é um vulcão de maldade prestes a entrar em erupção. Por fora há docilidade, mas por dentro é pura maldade e crueldade. Nesse âmbito, a Sagrada Escritura alerta aos cristãos para terem cuidado com esse tipo de pessoa.
Todo aquele iniciado à vida em Deus precisa manter os olhos abertos para não cair na tentação de seguir os que instrumentalizam a mensagem do evangelho a seu favor.
Aplicando ao contexto desta passagem, o alerta é para que os que seguiam Jesus Cristo não caíssem nas armadilhas dos falsos profetas (Mc 13,21-23). Eles têm eloquência e aparente bondade, mas a intenção é desviar do caminho reto os discípulos de Jesus, ocultando assim sua natureza nociva e maliciosa.
Portanto, o cristão atento não corre atrás desses falsos líderes, porque reconhece o verdadeiro cordeiro que é Cristo. Isto deve ser observado em qualquer tempo e lugar, para não cair em tentação, assim como Judas Iscariotes, que se sentou à mesa com Jesus e o traiu em vista de seus próprios interesses. Ninguém está imune a essa realidade, até Jesus foi vítima.
Os falsos profetas sempre vão afirmar que falam em nome de Deus, mas, na verdade, falam em nome de si mesmos. Porque não são sinceros. Nos Atos dos Apóstolos, São Paulo chama os falsos profetas de lobos devoradores, os quais serão reconhecidos pelos seus frutos (At,20,29-30). Assim como na comunidade dos discípulos, ainda hoje encontram-se muitos lobos em pele de cordeiros, mas não se deixem enganar!
No campo da pastoral, poderíamos dizer que é preciso tomar cuidado com as relações tóxicas, que levam à manipulação e exploração do outro. Isto se dá não só nas relações sociais, mas também nas religiosas.
Cuide para que Jesus Cristo não fique em segundo plano, enquanto você é conivente com lideranças que são verdadeiros lobos em pele de cordeiro.
Se, em algum momento da vida, você se encontrar numa realidade dessas, não convém confrontar, nem excluir a pessoa. Peça ajuda, não se deixe devorar. O bom pastor, que é Jesus Cristo, cordeiro sem mancha, é capaz de desmascarar qualquer lobo.
Maria Eliene Pereira de Oliveira é irmã Paulina, mestranda em Teologia Sistemática pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), bolsista FAPEMIG. Email: [email protected]