Vocação Paulina

Solitude, escuta e inteireza: um caminho para a busca de sentido 

Em meio à correria da vida presente, você tem encontrado tempo para saborear o silêncio da própria companhia? 

Foto: Pexels

Suas escolhas e decisões são baseadas na escuta do seu próprio coração ou nas muitas vozes externas?

Você está presente em tudo o que faz, ou deixa-se enganar pelos estímulos e distrações da vida conectada?

O excesso de ocupações, de conectividade e de estímulos externos provoca no ser humano de hoje uma crise de sentido que é, na verdade, uma crise da não-presença, isto é, da falta de inteireza no aqui e agora da existência. Quase tudo o que fazemos é, a cada instante, mediado pelo mundo das conexões, causando na alma certo esgotamento ou vazio existencial. 

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Em meio a tantos afazeres e conexões, temos a sensação de que estamos sempre ausentes de nós mesmos e da própria existência, o que dificulta, cada vez mais, o encontro silencioso com o próprio eu. Aliás, os espaços vazios são rapidamente ocupados pelas compensações das telas e pela busca por reconhecimento, validação e elogios nas redes sociais. 

A vida conectada, diariamente, testa a nossa capacidade para o recolhimento. Aos poucos, vamos nos tornando estranhos a nós mesmos e aos outros. Tudo isso porque temos a tendência a fugir do silêncio e da solidão. Mas, a fuga da solidão não nos ajuda a encontrar o sentido de nossa busca, ao contrário, afasta-nos de nossa verdadeira essência. 

A resposta para nossas muitas inquietações passa pela experiência da solitude. Para o místico Henri Nouwen, “solitude significa estar com Deus, e somente com Deus. Há algum espaço para isso em sua vida? Não é fácil sentar-se em silêncio, confiante de que é em solitude que Deus falará com você”.

Uma sociedade feita apenas de barulho, entretenimento e festa – onde não haja espaço para a solitude de seus habitantes – tende ao desespero, pode virar uma espécie de manicômio da estranheza e da indiferença. Sem a solitude e o recolhimento, como dizia Henri Nouwen, “permanecemos vítimas de nossa sociedade e continuamos a nos enredar nas ilusões do falso eu”.

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Somos seres de relações. Isso é verdade, mas, se não formos capazes de nos recolher (de tempos em tempos) e fazer a experiência da solitude, nossas relações interpessoais serão sempre rasas e superficiais.

Em nosso mundo, há músicas e sons por todos os lados. Penetram os fios e as telas. Invadem o trânsito. São quase inevitáveis. Barulhos ensurdecedores que, continuamente, nos roubam do olhar contemplativo. 

Em meio a tantos ritmos e infinitas conexões, o silêncio tornou-se um bem raríssimo, quase em extinção. Falamos excessivamente, dentro e fora das redes. Não nos cansamos de opinar, discutir, criticar, condenar, maldizer, festejar, gritar. 

A escuta quase não tem espaço em nossas relações interpessoais. Todos querem contar suas aventuras, mas, no fundo, ninguém se ouve. Quanto mais barulho uma pessoa faz, dentro ou fora das redes sociais, mais ela se apega ao que é supérfluo e se distancia daquilo que é essencial. A escuta é o dom de quem aprendeu a ser inteiro em tudo o que faz.

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Quantas vezes, motivados pela ânsia de antecipar as coisas, deixamos de estar inteiros ao momento presente! Essa fuga do agora se intensifica nos momentos de angústia, dor e dificuldades. 

Fazer planos e estabelecer metas para o futuro é importante e, de certa maneira, faz-nos sentir mais vivos. Isto, porém, não pode impedir-nos de “saborear” e aprender com cada experiência do caminho, inclusive com as mais difíceis.

Quando deixamos de viver o presente, seja por preocupação ou por medo, o nosso coração se fecha às surpresas de Deus. A vida, de repente, fica monótona e sem perspectiva.

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Deus se manifesta, sutilmente, no hoje de nossa história. Porém, se olharmos demais para o futuro, correremos o risco de não perceber as sutilezas de Deus e, pouco a pouco, nos tornaremos surdos para as coisas da alma.

Nossa missão, nesse mundo caótico, não é tentar prever ou antecipar o amanhã, mas assumir a nossa própria história – passado e presente, tristezas e alegrias – e abandonar-nos, com toda confiança, aos sonhos de Deus para nossa vida.

Quando aprendermos a estar inteiros no agora da vida, quando formos capazes de escutar a nossa própria voz interior e quando fizermos a travessia da solidão para a solitude, então saberemos que o verdadeiro sentido da existência mora no íntimo de nós.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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