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Te buscam pelas igrejas e templos,
com resquícios de arte gótica e barroca,
povoados de imagens frias e mudas,
mas eles, em suas paredes enfeitadas
parecem não raro desertos e indiferentes...
Te buscam ao ar livre dos campos
ou nas asas brejeiras e buliçosas do vento;
mas os ruídos múltiplos da existência,
cobrem a voz leve e suave de qualquer brisa
que pelas folhas, flores e frutos dispensa carícias...
Te buscam no turbilhão das ruas e praças
das pequenas, médias e grandes cidades,
onde se cruzam e recruzam rios de gente;
mas tropeçam nas multidões trôpegas,
com olhar fugitivo, solitário e apressado...
Te buscam no quarto, a sós consigo mesmos,
mas desta vez são os ruídos internos,
feitos de medos, dúvidas e interrogações,
que dispersam o sopro de tua passagem,
deixando o vazio sem sentido de uma ausência...
Te buscam na prece ou nos cultos comunitários,
bem como nas celebrações eucarísticas;
mas tais práticas, às vezes demasiado pomposas,
outras vezes demasiado estéreis e banalizadas,
deixam na alma um sabor de artificialidade...
Te buscam na grandeza do universo e dos astros,
mas a violência com que a terra vem sendo agredida
torna-a igualmente violenta em catástrofes extremas,
impedindo de ver no conjunto de tua obra
a fonte eterna da luz e do calor, da vida e do amor.
Te buscam no pobre caído à beira da estrada,
mas as mágoas, feridas e cicatrizes que ele carrega
por vezes o tornam tão rude e orgulhoso,
quanto a fome que lhe mora na face desfigurada;
porém, é através desse rosto e desse olhar
que podemos chegar a contemplar tua face luminosa.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs