Foto: Pixabay
O calendário litúrgico da Igreja abre novembro com a Solenidade de todos os santos e santas e a Comemoração dos fiéis falecidos.
Nesses dias, os cemitérios tornam-se “campos santos”, enfeitados por uma linda variedade de flores frescas. Não é sem motivo que a ideia do jardim é a primeira no imaginário, de quem tenta vislumbrar o céu e a vida eterna.
Pela fé, as pessoas que peregrinaram no tempo terrestre serão restauradas na morte, libertadas e santificadas por Cristo Redentor, para entrarem na morada de Deus Pai.
Assim reza o prefácio da missa de Finados: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (Missal Romano).
A profecia de Ezequiel, escolhida para os estudos do Mês da Bíblia de 2024, confirma a ação de Deus que transforma a morte em vida.
No capítulo 37 do livro, Deus conduz o profeta a um cemitério no deserto e lhe pede: “Profetiza ao espírito, filho do homem! Dirás: ‘assim diz o Senhor Deus: vem, ó espírito, dos quatro ventos, sopra sobre esses ossos e eles viverão’ [...]. Porei meu espírito em vós e vivereis, e vos colocarei na vossa terra e sabereis que eu, o Senhor, digo e faço” (37,9.13-14).
Nos capítulos 40 a 44, Ezequiel descreve o que viu: “Deus me conduziu à terra de Israel, colocou-me sobre um monte alto e me disse: ‘Filho do homem, olha com teus olhos, ouve com teus ouvidos e coloca teu coração em tudo o que eu vou te mostrar, pois para que eu te mostre isto, foste conduzido aqui. Apresenta tudo o que vires à casa de Israel’” (Ez 40,2-4).
Ezequiel perdeu ao ver a glória de Deus no templo de Jerusalém, foi levantado pelo espírito do Senhor e ouviu as palavras: “Filho do homem, este é o lugar de meu trono, o lugar da planta de meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre” (Ez 43,7).
Por fim, com as prescrições para que a liturgia do templo agregue o povo, o governante, a cidade e o campo na pureza de coração e na fidelidade ao Senhor, Ezequiel passa a descrever, no capítulo 47, como Deus lhe revelou o significado espiritual do templo.
Foto: Pixabay
O profeta viu uma nascente de água vinda do altar, que, como grande torrente, saía do templo e descia até o mar. Ele assim a descreve na profecia: “[...] junto à torrente, em sua margem, de um lado e de outro, haverá toda sorte de árvores frutíferas. Não murcharão suas folhas nem se esgotarão seus frutos, e a cada mês produzirão frutos novos. Pois aquelas águas saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas, de remédio” (Ez 47,9.12).
O profeta Ezequiel diz que a Terra Prometida, antes profanada por ídolos e esvaziada de seus habitantes, será restaurada, com águas, árvores frutíferas e campos férteis, à semelhança do paraíso terrestre, no começo da criação. Ela será repovoada pelos descendentes das tribos de Israel que voltarão do Exílio e por estrangeiros no meio deles (Ez 47, 22).
O capítulo 48 descreve a terra e nomeia os líderes do Povo de Deus, sendo que o templo estará no centro: “o nome da cidade a partir daquele dia será: O Senhor está ali” (Ez 48, 35).
Assim se encerra, do modo mais consolador possível, este grande livro profético do Antigo Testamento, que foi estudado e rezado por milhares de pessoas e comunidades em todo o Brasil, no Mês da Bíblia e em todo o ano de 2024.
As comunidades cristãs do Novo Testamento (NT), cientes da profecia de Ezequiel, a aplicaram ao fim dos tempos, ao falarem da Nova Jerusalém Celeste descrita no Apocalipse: “Eis a tenda de Deus com os seres humanos. Eles serão seu povo, Deus estará com eles e será seu Deus” (Ap 21,3). E referiram-se ao rio de água viva que jorra do trono de Deus, na vida eterna (Ap 22,1).
A diferença é que o profeta se dirigia só aos filhos de Israel, enquanto a profecia do NT é para todos os povos de todos os tempos.
As aproximações entre Ezequiel e o Apocalipse permitem concluir que os primeiros cristãos encontraram no Antigo Testamento as luzes para entender Jesus Cristo, sua ressurreição e o destino humano no âmbito da fé, porque os últimos capítulos do Apocalipse (21 e 22) mostram o entendimento do projeto de Deus e de sua ação libertadora e salvadora, que irá restaurar e fazer novos o céu e a terra, no fim dos tempos.
Novembro, no Brasil, é um mês de cidadania e memória. A proclamação da República, no dia 15, celebra a democracia. Por outro lado, o dia 20, Dia da Consciência Negra, faz lembrar o longo caminho que falta para a justiça, o direito e a igualdade se tornarem reais no país.
A diferença de oportunidades ainda presente em nossa nação leva a lembrar que o Papa Francisco inaugurou o Dia Mundial dos Pobres, sempre no penúltimo domingo do Ano Litúrgico (17 de novembro de 2024), e o tema, neste ano, é extraído de Eclesiastes: “A oração do pobre eleva-se a Deus” (Ecl 21,5).
Diz Francisco: “A esperança cristã inclui a certeza de que nossa oração chega à presença de Deus [...] que é um Pai atento e carinhoso para com todos e conhece nossos sofrimentos. Como Pai, preocupa-se com os esquecidos e os que mais sofrem [...]. Ninguém está excluído de seu coração, nem sequer teríamos vida se Deus não a tivesse dado. [...]
A oração, por conseguinte, encontra o certificado de sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e aproximação. Porém, se a oração não se traduz em ações concretas, é vã, porque “a fé sem obras é morta” (Tg 2,26) (Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres de 2024 – www.vaticannews.va).
Pausa para reflexão
1. Se em novembro os cemitérios se tornam jardins, o que podemos pensar da vida eterna, vendo esse lindo símbolo de morte e vida?
2. Ezequiel e o Apocalipse prometem que Deus fecundará a terra com água corrente e árvores frutíferas. Como podemos participar do sonho de Deus de restaurar o paraíso?
3. Quais são as obras que comprovam a autenticidade da fé e contribuem para que todos na terra tenham vida?