Foto: Pexels
Como ocorre com a grande maioria das famílias brasileiras, o Natal sempre foi a festa mais aguardada do ano lá em casa. Sempre precedida pela novena, período em que, além de aprofundar o conhecimento do menino Jesus, era um tempo bom para estreitar a amizade com os vizinhos.
Aí está a dificuldade em eleger um Natal marcante. Foram muitos.
Mas há um, celebrado não com a família biológica, mas com a grande família humana, que marcou como um profundo conhecimento do sentido mesmo do Natal. Foi no ano de 1997, recém-chegada em Brasília, longe dos primeiros parentes.
Decidimos, um grupo de amigos, passar a noite do Natal na rua, com as pessoas que ali moravam. Escolhemos, como local, a ponte do Bragueto. Ali estavam mais ou menos 20 pessoas, aguardando os transeuntes que, por vezes, traziam algo para comer.
Foto: Freepik
- Vocês não estão trazendo panettone, não é? Perguntou um deles. Não aguentamos mais comer panettone.
- Trouxemos panettone, e outros itens, como peru, risoto, salpicão, nozes e bebidas. Trouxemos também pratos, talheres e uma toalha, para cearmos juntos – respondi.
- Vocês vão comer com a gente? Perguntou uma garota surpresa.
- Sim, vamos ficar aqui a noite, confirmou Rosa, uma das amigas.
Também surpresos, todos os outros se aproximaram e fizeram uma bela acolhida ao grupo, composto por umas oito pessoas.
Fernanda fez a dinâmica de apresentação, que consistia em esfregarmos as mãos com sal grosso. Uma técnica interessante. Esfregando as mãos no sal, fomos nos apresentando, contando um pouco de nossa história. Purificamos as mãos e a alma.
Enquanto ceávamos, cada um falava do sentido do Natal e todo o significado que trazia às suas vidas.
Essa experiência havia sido inspirada no ritual criado por Henrique, Peregrino da Trindade, na Praça da Piedade, em Salvador (BA). Todos os anos, montava a árvore com os chamados “mendigos”, “moradores de rua”, que ali estavam. Escolhidos pelo Menino Jesus para serem a manjedoura dos tempos atuais.
Edla Lula é jornalista e mora em Brasília (DF).