Vó Maria com seu neto. Foto: Arquivo Pessoal
Mãe é nome comum a todas as mulheres que geram um filho. Maria é um nome comum a tantas vovós, que também são chamadas de madrinhas, dindas, nonas... Mãe Maria, Mãe Cida, Mãe Lourdes, Mãe Flávia, são expressões que muitos netos usam para identificar a mãe de seus pais, a vovó.
Mãe Maria nunca se esquece de dizer que o seu lar é o melhor lugar do mundo.
É um espaço que muda, mas não muito. Quem não se lembra daquela caneca, do garfinho, do livro de histórias ou do prato da vovó?
O tempo passa, e Mãe Maria não pára. Hoje, mesmo devagar, gosta de passear, fazer compras. Troca as almofadas, as flores, as cortinas, os móveis... Mas, na parede, a gente sempre vê aquela foto de família, o crucifixo, a pintura de uma filha, o quadro do Coração de Jesus... Dos seus lábios, como de quem sabe amar, sempre se ouvem as palavras: “Deus é bom e cuida de nós”.
É convicta: sua casa tem a proteção especial de Deus. E ela ensina os seus a falarem com Ele e com a Mãe de Jesus.
É na sua casa que netos, bisnetos, filhos, noras, genros, pessoas amigas gostam de se encontrar. Mãe Maria, apesar das dificuldades, próprias da idade, nunca deixa diminuir seu prazer em acolher, preparar o pão com sabor de carinho, o macarrão especial para o neto especial, o rocambole para o bisneto que dela herdou o gosto pela música.
Para chegar até aqui, vigorosas, fortes, muitas além de 90 anos, as vovós se cultivaram, como se cultivam as flores. Terra boa, sol, água e muito adubo. Todo este suporte Mãe Maria descobriu na dedicação aos filhos, à família, voltando sempre para o sol: Deus.
Com ele colaborou como catequista, palestrante na comunidade, ministra da comunhão... Dedicou-se à sociedade, trabalhando em diversas jornadas de trabalho: professora, funcionária pública, dona de casa, mãe, esposa, costureira... Mais tarde, quando se aposentou, dedicou-se ao artesanato: crochê, flores de sabonete, flores para festas, representante da revista Família Cristã, escritora de poemas, tecladista...
Toda a família da Vó Maria na festa dos 80 anos. Foto: Arquivo Pessoal
Conheço a Mãe Maria que, perto dos 80 anos, se deu conta que havia uma linguagem nova, fundamental para dialogar e se comunicar com a família, especialmente com a faixa mais jovem: a internet. Decidiu logo: fez diversos cursos, frequentando escola com diversos alunos três e quatro vezes mais jovens.
A relação foi tão bonita que Mãe Maria foi convidada e aceitou ser paraninfa da turma, na formatura. Tornou-se a primeira aluna e, ao mesmo tempo, paraninfa, naquela escola. Adotou a comunicação virtual: pelo Skype interage com a família, pelo blog acompanha o registro dos momentos especiais.
Outra Mãe Maria, ofereceu como lembrança de seus 80 anos, um caderno intitulado “80 Receitas de Vida”. O conteúdo do livreto eram suas receitas apreciadas e preferidas de cozinha e pensamentos que nortearam sua vida. Como a ideia agradou, nos aniversários seguintes foi criando uma coleção: “Música do coração” (suas músicas preferidas), “Doce viver” (suas poesias), “Parábolas de vida”, “85 anos de bênçãos”. As crianças também receberam o jornalzinho preparado para elas - “Favo de Mel” - com a história da “Aurora, a borboleta”.
Preparando o último Natal, Mãe Maria acompanhou a novena em família. Quando a oração foi na sua casa, o tema eram os “anjos” que anunciaram o nascimento de Jesus.
Confeccionou cartões com recortes de tecidos de estampas natalinas e, no final da oração, como compromisso, distribuiu os cartões para que cada um escrevesse uma mensagem a alguém. Cada um deveria se tornar também um anjo anunciador da mensagem do Natal. Para surpresa de todos, o bisneto caçula ofereceu seu cartão à Mãe Maria. Um lindo anjo para uma vovó tão carinhosa!
Vó Maria com a família, 4 gerações em uma única imagem. Foto: Arquivo Pessoal
Mãe Maria é vovó de outros netos que, praticamente, não são os seus. Qualquer criança tem espaço no seu coração. No primeiro dia do ano, a mesa da sala de jantar ganhou novo colorido. Eram as sacolinhas azuis e rosas, preparadas na véspera, cheias de surpresas de Boas Festas.
Apenas o dia nasceu, lá em frente a casa, estavam muitas crianças, em grupos, tocando a campainha. Ao verem Mãe Maria, diziam alegremente: “Vó, queremos Boas Festas”. Vovó distribuiu as sacolinhas recheadas de balas, biscoitos, brinquedos, pipocas, Boas Festas... Uma alegria só!
Depois das festas de final de ano, a família, sobretudo os menores, querem se encontrar mais. Mãe Maria cria motivações: inventa a festa da pipoca. Faz colares, pulseiras e brincos de pipoca e convida a todos para um encontro. Em volta de uma grande mesa, todos “empipocados”, esquecem o tempo saboreando pipocas com sal e chocolate, participando do bingo com os brindes divertidos e úteis da Mãe Maria.
E aquela Mãe Maria que virou mágica!? Colocou cartola na cabeça, entrou na roda dos netos e bisnetos que faziam mágicas. Divertiu-se e se divertiu. E passou a fazer parte do Clube de Mágica da família.
Há, na verdade, uma mágica no coração e na vida de todas as vovós. Apesar de tantas dores, dificuldades e cansaço, apesar da saudade de tempos e pessoas que já se foram, elas têm um segredo muito simples: a criatividade própria da eterna novidade do amor.
Percorrendo o caminho da vovó...
Um dia...Menina pura, corria, sorria, brincava, sonhava
Depois... Jovem bonita, cantava, amava, crescia, vivia!
Tempos depois... Mulher madura, acolheu, sofreu, perdoou, abraçou.
Hoje... Vovó, Mãe Maria, é só coração, afeição!
Para ela, “Deus é bom”, é Pai, é sustento!
Para os seus, ela é colo e acalento!