Serviço de Animação Bíblica (SAB)

Tradutor da Bíblia: “um construtor de pontes”

A tradução dos textos sagrados sempre é uma forma de inculturar a Bíblia

Foto: Juliene Barros

No dia 30 de setembro, comemora-se o dia da tradutora e do tradutor e celebra-se a memória da morte de São Jerônimo (420 d.C.). Não é uma coincidência unir essas duas celebrações, pois São Jerônimo foi responsável pela tradução da Bíblia Hebraica para o latim, a chamada “Vulgata”.

Esse trabalho monumental contou com a colaboração de Paula e Eustóquia. A tradução foi solicitada pelo Papa Dâmaso, ao constatar a ausência de uma versão da Bíblia em latim, o que dificultava o acesso dos leitores de língua latina aos textos bíblicos. 

A tradução dos textos sagrados sempre é uma forma de inculturar a Bíblia em outras línguas e culturas.

Importância da tradução dos textos sagrados

Como afirmou Papa Francisco, em sua Carta Apostólica Scripturae Sacrae affectus (Afeto às Sagradas Escrituras): “A obra de tradução de Jerônimo ensina-nos que os valores e as formas positivas de cada cultura constituem um enriquecimento para toda a Igreja. As várias maneiras, em que é anunciada, compreendida e vivida a Palavra de Deus em cada nova tradução, enriquecem a própria Escritura, pois essa, segundo a conhecida expressão de Gregório Magno, cresce com quem lê, recebendo novas acentuações e tonalidades ao longo dos séculos. [...] A Bíblia deve ser constantemente traduzida nas categorias linguísticas e mentais de cada cultura e de cada geração, mesmo na cultura secularizada global de nosso tempo”. 

Portanto, a tradução da Bíblia é um processo complexo que exige não apenas conhecimento profundo dos textos nas línguas originais, mas um entendimento abrangente dos contextos históricos e culturais.

Foto: Juliene Barros

Como se sabe, não se dispõe dos textos “originais” da Bíblia, mas sim de numerosas cópias manuscritas descobertas ao longo da história e de citações nos escritos dos Padres da Igreja e outros documentos antigos. 

Após um longo trabalho dos especialistas (arqueólogos, filólogos, linguistas, biblistas, e outros mais), é oferecido, aos tradutores, um texto chamado “oficial” para a tradução. Porém, os tradutores também podem eleger aqueles manuscritos com maior “autoridade”, após passar por vários critérios da chamada “crítica documental ou textual”, ou seja, pela análise desses “documentos”. Para o Antigo Testamento (AT), utiliza-se a quinta edição da Bíblia Hebraica; para textos aramaicos, outros manuscritos são consultados; e para os textos gregos, recorre-se à Septuaginta (LXX). Existe também um texto oficial para a tradução do Novo Testamento (NT).. 

O contexto do texto

Além de conhecer a gramática das línguas originais, o(a) tradutor(a) deve compreender o contexto situacional do texto. Portanto, a colaboração de outras disciplinas, como História, Antropologia, Sociologia, Linguística e outras, é fundamental. A análise do estilo literário do autor também é crucial: o Evangelho segundo Marcos, por exemplo, apresenta um grego simples e narrativo, enquanto o Evangelho segundo Lucas emprega um estilo mais refinado e um grego clássico.

Foto: Juliene Barros

Os textos de Paulo exigem do(a) tradutor(a) um domínio das estruturas discursivas e um entendimento profundo das comunidades primitivas.

Quando se trata de traduzir para o português, especialmente no Brasil, é essencial não apenas dominar a gramática portuguesa, mas estar atento(a) às variações regionais e contextuais da língua.

Isenção da pessoa que traduz

O tradutor e a tradutora são os(as) primeiros(as) intérpretes do texto a ser traduzido, dado que o texto passa por sua experiência, e não há nenhuma tradução, nem mesmo dos textos sagrados, isenta da experiência do(a) tradutor(a).

Por isso, é grande a responsabilidade de quem traduz, sem contar com a dimensão ética de sua interpretação, pois uma tradução inadequada pode ter consequências desastrosas.

É preferível, portanto, traduzir diretamente das línguas originais para o português, ao invés de fazer traduções intermediárias a partir de outras línguas, como francês, inglês ou espanhol, pois ao passar por essas diversas traduções podem distorcer o significado original das palavras e do texto. 

Ao celebrar o dia do(a) tradutor(a), é importante reconhecer o valor do trabalho de tradução, que possibilita o acesso aos textos sagrados em português e a inúmeras pesquisas. Como observou o Papa Francisco: “O (A) tradutor(a) é um (a) construtor (a) de pontes”.

Zuleica Aparecida Silvano é irmã paulina e assessora do Serviço de Animação Bíblica – SAB/Paulinas. Tradutora de A Bíblia (Livros: 1-2Cor, Gl, Fm, Jd), da Paulinas Editora. 

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