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Um jubileu para nos ensinar a rezar

O Ano Jubilar tem suas raízes na tradição bíblica do Jubileu, conforme descrito no Livro do Levítico (Cf. Lv 25,8-13), que prescrevia um tempo de reconciliação, libertação dos escravos, restituição de propriedades e descanso da terra a cada 50 anos, como sinal da aliança com Deus e da justiça social.

No âmbito cristão, o primeiro Ano Santo foi proclamado pelo Papa Bonifácio VIII no ano de 1300, visando fomentar a peregrinação à Roma (e em todas as dioceses do mundo) e a renovação espiritual através das indulgências. Em 11 de fevereiro de 2022, o Papa Francisco anunciou oficialmente o Ano Santo de 2025, cujo tema será “Peregrinos de Esperança”, destacando a importância da oração e da reconciliação na vida dos cristãos.

O Jubileu de 2025 surge, assim, como uma oportunidade singular para a Igreja vivenciar a oração de forma mais profunda, renovando a fé e a esperança. Sob o tema “Peregrinos de Esperança”, o jubileu convida os fiéis a unirem liturgia, Palavra e vida cristã em uma sintonia que expressa o coração da fé católica.

A liturgia à guisa do Ano Jubilar 

A graça divina na ação litúrgica

A liturgia, como obra divina, é o espaço privilegiado onde a graça de Deus se manifesta de maneira visível (Elberti, 2023, p.25). No Ano Jubilar, essa realidade ganha novos contornos por meio de ritos especiais que orientam os fiéis a uma experiência mais intensa da misericórdia divina.

Foto: Pixabay

Cada celebração torna-se um convite a reconhecer a presença amorosa de Deus que age na história e no coração de cada pessoa.

Os ritos vivenciados nesse tempo

Entre os momentos mais significativos do início do ano jubilar estão a “Abertura da Porta Santa” e o canto do “Te Deum”, ritos que revelam, de certo modo, a disposição que todo cristão é convidado a viver ao longo deste ano de graça.

A Porta Santa, símbolo da passagem para uma vida renovada, reflete o convite à conversão e ao encontro com Cristo, a qual é a porta das ovelhas (Cf. Jo 10,7). Já o Te Deum, entoado em ação de graças, expressa a gratidão da Igreja pela salvação que Deus continuamente oferece. Esses ritos, com seu simbolismo, são ocasiões para um profundo encontro com o mistério divino.

Foto: Pexels

As indulgências plenárias

No centro espiritual do Ano Santo está o convite à vivência das indulgências plenárias, que representam um dom extraordinário da misericórdia de Deus. Concedidas àqueles que participam das celebrações jubilares com contrição e fé, as indulgências fortalecem a comunhão com Deus e renovam a dimensão comunitária da Igreja. Elas lembram que a liturgia é, antes de tudo, um espaço de reconciliação e esperança.

As Sagradas Escrituras, fundamentos da ação ritual

“Para anunciar o ano do Senhor”

As palavras do profeta Isaías (Cf. Is 61,1), proclamadas por Jesus no início de sua missão, são um eixo central do Ano Santo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres” (Cf. Lc 4,18).

Foto: Juliene Barros

Esse anúncio jubilar ressoa em 2025 como um chamado à libertação e ao cuidado com os mais vulneráveis, recordando que o jubileu bíblico era um tempo de restituição e justiça. 

A Palavra se torna sacramento

A celebração jubilar também é um momento para compreender a íntima relação entre Escritura e liturgia (Compiani, 20223, p.11). Na ação ritual, a Palavra proclamada torna-se sacramento, um encontro real com Cristo.

Os fiéis não apenas ouvem as Escrituras, mas participam do mistério que elas anunciam, permitindo que a Palavra transforme suas vidas.

Assim, ao ser proclamada, a Escritura é vida que se faz presente no aqui e agora da celebração, compreensão que o ano jubilar deseja destacar para que se torne mais consciente, na prática da vida de todo cristão.

 Lex celebrandi, lex vivendi 

Aquilo que celebramos é o que vivemos

A máxima litúrgica “lex celebrandi, lex vivendi” afirma a inseparabilidade entre a liturgia e a vida cristã. Aquilo que celebramos na liturgia molda nossa fé e nos impulsiona a vivê-la em nosso cotidiano.

No jubileu, essa verdade se manifesta com força, lembrando-nos que a oração e os ritos não podem ser dissociados de uma vida comprometida com o Evangelho. 

A vida está presente na ação ritual e não deve ser dissociada dela

O Ano Santo também reforça que a liturgia não é um espaço separado da vida concreta. Pelo contrário, é um reflexo e uma transformação dessa vida.

Cada celebração é um chamado à santidade e ao serviço, uma oportunidade para que os fiéis renovem seu compromisso com a justiça, a paz e o cuidado com o próximo e com a Casa Comum. Dissociar a vida da liturgia enfraquece sua capacidade de transformar os corações e as comunidades.

O Jubileu de 2025 chega, assim, como um convite para o aprofundamento da oração e da vida cristã, guiado pela liturgia, pela Palavra de Deus e pelo compromisso com o Evangelho. Mais do que uma celebração, é um caminho de esperança que nos ensina a rezar, viver e transformar o mundo com a força da fé. 

 

REFERÊNCIAS

A Bíblia. São Paulo: Editora Paulinas (1ª ed.), 2023.
Catholic Encyclopedia (1913). Holy Year of Jubilee. Disponível em: https://www.newadvent.org/cathen/08531c.htm.
COMPIANI, Maurizio. A Sagrada Escritura na Liturgia. Cadernos do Concílio – 7. Brasília: Edições CNBB, 2023, p. 11.
ELBERTI, Arturo. A Liturgia no Mistério da Igreja. Cadernos do Concílio – 6. Brasília: Edições CNBB, 2023, p. 25.
O Papa anuncia o Jubileu de 2025: um dom especial de graça da misericórdia de Deus. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-02/papa-anuncia-jubileu-2025-dom-especial-graca-misericordia-deus.html

Karoline Menezes é Mestre em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Integrante do Instituto Humanitas UNICAP e da Comissão Regional de Liturgia da CNBB NE2. E-mail: [email protected].

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