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Tempo de Advento! Oportunidade para nos preparar para o Natal pensando no modo pelo qual Deus quis se revelar ao mundo. São Paulo nos ajuda.
Em sua Carta aos Filipenses, recomenda o que ele chama de “sentimentos” de Jesus. Quais são estes sentimentos? “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo. Ele tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!"(Cf. Fl 2,5-8). Isto é Kenosis!
O todo poderoso se torna humano, servo, frágil
No seu recente livro “O Presépio”, o Papa Francisco fala de um sinal que podemos ver no Menino de Belém.
“Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não! O Deus eterno reduz-se a si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-se ao nosso lado; Deus não quer pôr-se acima ou longe de nós”. (Papa Francisco no livro “O presépio”, lançado em novembro de 2023).
Deus se faz pequeno para caminharmos com ele
O Filho de Deus, Jesus, se faz nosso companheiro, faz comunhão conosco. Outra palavra grega define bem esta atitude: Koinonia.
A koinonia é comunhão, partilha de bens, da fé e da vivência cristã. Vamos encontrar a koinonia no livro de Atos dos Apóstolos quando ali é feito o retrato da primeira comunidade.
“Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação”. (Cf. At 2,42-47)
É a koinonia que faz os irmãos
Um conhecido fato que até inspirou música é bem interessante.
Certa noite, com uma forte tempestade, o diretor ouviu alguém bater na porta do orfanato.
Ao abri-la, ele se deparou com um menino todo molhado, com poucas roupas, trazendo em suas costas, um outro menino mais novo.
A fome estampada no rosto, o frio e a pobreza dos dois comoveram o diretor.
Mandou-os entrar, e antes de cuidar deles, disse:
– Ele deve ser muito pesado.
O que carregava o menor disse:
– Não! Ele não pesa, é meu irmão!
Não eram irmãos de família. Eram irmãos da rua!
Exemplo clássico de amor koinonia.
Pela kenosis podemos viver a koinonia e a shekinah
Shekinah é uma palavra hebraica que aparece com frequência na Bíblia e significa “habitação” ou “presença de Deus”. Para os teólogos a tradução que mais se aproxima desta palavra é: “a glória de Deus se manifesta”.
Muitas vezes Shekinah é representada pela nuvem, como acontece na Transfiguração de Jesus, na passagem Êxodo: “Moisés não pôde entrar na tenda da reunião, porque a nuvem tinha pousado sobre ela e a glória de Deus enchia o santuário” (Cf. Ex 40,35).
É representada pela “glória divina que habitava a terra” como descreve o Salmo: "A salvação está próxima dos que temem o Senhor, e a glória habitará em nossa terra” (Cf. Sl 85, 8,9).
Natal é kenosis. Natal é koinonia! É shekinah! Vamos viver este Natal!
Pe. Zezinho, scj, teve uma inspiração preciosa quando compôs Shekinah Emanuel, música interpretada pelo Grupo Ir ao Povo. Ouça!