Foto: Cáritas Diocesana de Porto Alegre/RS
Caridade é uma palavra derivada do latim “caritas” e é definida como a “ação ou resultado de fazer o bem; sentimento de fazer o bem a pessoas mais desfavorecidas; compaixão, doação ou ação de apoio aos necessitados”. Mas, para nós católicos, o significado de caridade vai muito além disso.
Ela é uma das virtudes cristãs, um preceito. “A caridade é o coração da fé cristã porque diz respeito ao mistério de Deus. Deus é amor e a vida cristã é baseada no amor de Deus e no amor com os irmãos”, explica o doutor em Teologia e professor da Faculdade Católica de Fortaleza, padre Francisco Aquino Junior.
Doutor em Teologia e professor da Faculdade Católica de Fortaleza, padre Francisco Aquino Junior. Foto: Arquivo Pessoal
Segundo o padre, a caridade se refere à Deus, cujo jeito de ser se revela em Jesus de Nazaré – que dá a vida pelo bem e pela salvação de todos. Por isso a vida cristã, que é vida em Deus, tem na caridade o seu ponto central: “O centro da fé é a caridade. E a caridade tem haver com o amor de Deus vivido com todas as pessoas, mas, sobretudo, com os pobres, marginalizados, os últimos deste mundo. A caridade tem o sentido de serviço aos pobres, uma dimensão assistencial, de socorro imediato, mas tem também uma dimensão política, de transformação das estruturas e da organização da sociedade segundo o Evangelho”, completa.
Gestos concretos
A caridade se materializa em ações de auxílio e doação ao próximo, sejam elas materiais ou imateriais, revelando o amor e o cuidado para com o outro, sem julgamentos ou segundas intenções.
Os exemplos mais recentes de gestos de caridade no Brasil estão acontecendo no Rio Grande do Sul, que teve quase 95% de suas cidades afetadas pelas chuvas que castigaram o estado entre o fim de abril e o mês de maio.
Foto: Cáritas Diocesana de Porto Alegre/RS
“Em nossas visitas e escutas às pessoas atingidas pelo desastre, temos ouvido muitos relatos e testemunhos de pessoas que se colocaram em risco para salvar outros, sejam familiares, amigos, ou desconhecidos. Na maioria das vezes sem equipamento, sem treinamento, contando somente com a ousadia do amor ao próximo. Portanto, o amor ao próximo está latente em todo o ser humano porque somos criados por Deus que é amor. São em contextos extremos como esse que mais se manifesta a força da caridade como valor que move o ser humano para ações e atitudes não acionadas em circunstâncias normais”, afirma a Secretária Executiva da Cáritas Brasileira/Regional RS, Jacira Teresinha Dias Ruiz.
Universalidade
A caridade no sentido da vivência do amor é algo presente em todos os povos, culturas e religiões. Ela não é exclusiva do Cristianismo, mas na tradição judaico-cristã aparece como algo central e determinante.
Ela marca a vida do Cristianismo desde os seus primórdios, pois Jesus viveu esse amor até o extremo da cruz. É isso que a Igreja busca viver na vida fraterna com todos e no serviço aos pobres e necessitados. Isso explica o surgimento de instituições e ministérios de assistência e socorro aos necessitados ligados à igreja ao longo da história.
Foto: Cáritas Diocesana de Porto Alegre/RS
“A caridade não se reduz ao aspecto assistencial, há também uma dimensão social e política da caridade. O compêndio da doutrina social da Igreja diz que é um ato de misericórdia socorrer um necessitado, mas é igualmente um ato de misericórdia lutar para que na sociedade não tenham pessoas necessitadas. Esta é a caridade social e política que o papa Pio XI se referiu ao dizer ‘depois do amor de Deus é a forma mais elevada de amor cristão’. Tem haver com a preocupação do bem comum, com a luta pela justiça social, com a defesa dos pobres e marginalizados”, explica padre Francisco.
A Secretária Executiva da Cáritas chama a atenção para o comprometimento do cristão com a defesa da vida: “Se o amor está presente em todo o ser humano, para nós cristãos ele não é uma escolha, é imperativo que nos identifica e um constante chamado a aperfeiçoar nossos compromissos com a defesa da vida em todas as suas expressões. É a partir do amor manifestado aos indefesos que seremos reconhecidos no momento definitivo diante de Deus. O amor dos cristãos deve se manifestar na radicalidade da defesa da justiça e da dignidade para que a vida seja respeitada. Na atualidade, precisamos nos comprometer amorosamente com a criação, com a natureza que sofre tanto pela exploração até seu esgotamento”, finaliza Jacira Ruiz.
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