Vocação Paulina

Três verbos que caracterizam o dom do discernimento - Parte 2

O documento preparatório ao Sínodo 2018 “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” descreve três atitudes para concretizar o discernimento: reconhecer, interpretar e escolher

Interpretar

Não é suficiente reconhecer aquilo que nós experimentamos: é necessário “interpretá-lo” ou, em outras palavras, compreender para o que o Espírito nos chama através daquilo que suscita em cada um. Muitas vezes detemo-nos a narrar uma experiência, ressaltando que “ficamos deveras impressionados”.

Mais difícil é compreender a origem e o significado dos desejos e das emoções sentidas e avaliar se eles nos orientam numa direção construtiva ou, pelo contrário, se nos levam a fechar-nos em nós mesmos.

Esta fase de interpretação é muito delicada; exige paciência, vigilância e também uma certa aprendizagem. Devemos ter a capacidade de estar cientes dos efeitos dos condicionamentos sociais e psicológicos.

Foto: Cathopic

Isto requer que se ponham em campo também as próprias faculdades intelectuais, contudo sem cair no risco de construir teorias abstratas sobre aquilo que seria bom ou bonito fazer: até no discernimento, “a realidade é superior à ideia” (Evangelii gaudium, 231). Na interpretação, não podemos nem sequer descuidar do confronto com a realidade e a consideração das possibilidades que objetivamente temos à disposição.

Para interpretar os desejos e os impulsos interiores é necessário confrontar-se honestamente, à luz da Palavra de Deus, também com as exigências morais da vida cristã, procurando inseri-las sempre na situação concreta de vida.

Este esforço impele quem o envida a não se contentar com a lógica legalista do mínimo indispensável, procurando ao contrário o modo de valorizar da melhor maneira os dons pessoais e as próprias possibilidades: por isso, trata-se de uma proposta atraente e estimulante para os jovens.

Este trabalho de interpretação realiza-se num diálogo interior com o Senhor, com a ativação de todas as capacidades da pessoa; no entanto, a ajuda de um especialista na escuta do Espírito constitui um apoio inestimável, que a Igreja oferece e do qual é pouco prudente não lançar mão.

Escolher

Uma vez reconhecido e interpretado o mundo dos desejos e das paixões, o ato de decidir torna-se exercício de autêntica liberdade humana e de responsabilidade pessoal, obviamente sempre situada e, portanto, limitadas.

Foto: Cathopic

Por conseguinte, a escolha subtrai-se à força cega dos instintos, aos quais um certo relativismo contemporâneo acaba por atribuir o papel de critério último, aprisionando a pessoa na volubilidade. Ao mesmo tempo, liberta-se da sujeição a instâncias externas à pessoa e, portanto, heterônomos, exigindo igualmente uma coerência de vida. […] A decisão deve ser posta à prova dos acontecimentos, tendo em vista a sua confirmação.

A escolha não pode permanecer prisioneira numa interioridade que corre o risco de permanecer virtual ou irrealista – trata-se de um perigo acentuado na cultura contemporânea – mas é chamada a traduzir-se em ação, a encarnar, a dar início a um percurso, aceitando o risco de se confrontar com aquela realidade que tinha posto em movimento desejos e emoções.

Nesta fase surgirão outros ainda: reconhecê-los e interpretá-los permitirá confirmar a bondade da decisão tomada ou aconselhará a revê-la. Por isso, é importante “sair” também do medo de errar que, como vimos, pode tornar-se paralisante.

Para saber o outro verbo que caracteriza o dom do dicernimento, clique aqui.

 

FONTE: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional - Documento preparatório ao Sínodo dos Bispos 2018 - XV Assembleia Geral Ordinária. 

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