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Agressão virtual, estrago real

Na internet mensagens com imagens e comentários cruéis tornam o bullying ainda mais perverso. Trata-se do cyberbullying, a violência virtual

Foto: Freepik

Quem convive com jovens e adolescentes sabe que eles são capazes de praticar pequenas (e grandes) perversões. São debochados, reparam nas mínimas imperfeições, criam apelidos. Esse comportamento não é novo, mas há cerca de 15 anos, essas provocações passaram a ser vistas como uma forma de violência e ganharam o nome de bullying (palavra do inglês que pode ser traduzida como "intimidar" ou "amedrontar").

Bullying é um conjunto de ações, palavras e gestos praticados de forma continuada em ambiente escolar ou em razão dele por um aluno ou grupo de alunos com a finalidade de humilhar e ofender o outro que não se enquadra de alguma forma no espectro de aceitação ou no modelo social do agressor. Mais recentemente, a tecnologia deu nova cara ao problema: mensagens ameaçadoras, e-mails com fotos e textos constrangedores para a vítima foram batizados de cyberbullying

O cyberbullying é a pratica do bullying em ambientes cibernéticos como redes sociais, salas de aula virtuais e grupos de estudos online. Em resumo, é a evolução tecnológica desse mal social. Em geral, o agressor é alguém que convive diariamente com a criança ou com o adolescente, principalmente colegas de classe. O ambiente escolar é o local onde acontece boa parte dos casos de bullying e de onde saem os casos de cyberbullying no mundo.

Mas é só uma brincadeira...

Na escola ou nas redes sociais, como é possível diferenciar o bullying de uma brincadeira? Para o advogado Alexandre Saldanha a diferença está na carga emocional das ações. “A brincadeira é saudável, todos se divertem e ela não tem intenção de ferir ou humilhar. Além disso, a brincadeira sempre integra as pessoas. Já o bullying sempre terá a intenção perniciosa da humilhação, da segregação e da submissão da vítima à situações humilhantes”, explica o especialista em Bullying e Mobbing, membro da Comissão dos Direitos da Infância e da Adolescência da OAB (PR) e da Comissão de Direito Antibullying da OAB (SP) - Subseção de São Caetano do Sul.

A estudante Manuela, 14 anos, teve uma foto publicada na rede social por uma amiga e da noite para o dia passou a ser ridicularizada por conta do seu corte de cabelo. “Eram dezenas de pessoas falando mal de mim. Chorei muito e não via a hora que meu cabelo crescesse de novo”, lembra. 

Esse exemplo mostra o alcance que a tecnologia consente quando a agressão acontece em ambiente virtual. Além de dificultar a identificação do agressor, nestes casos, as ofensas e provocações estão permanentemente atormentando as vítimas. Quem se expõe nas redes sociais corre mais risco de ser agredido. Mas afinal, quais são os sinais que alertam os pais sobre esta questão? Como é possível saber se isso está acontecendo com o seu filho?

Algo não vai bem

Criança ou adolescente triste, ansioso ou preocupado, com frequentes oscilações de humor ou comportamento agressivo sinaliza que algo não vai bem. “Quando um adolescente é vitimado primariamente tenta resolver a situação sozinho, quando a tentativa falha ele busca, mesmo que inconscientemente, demonstrar que algo está gerando sofrimento e espera que uma das pessoas de confiança perceba e tome uma atitude.

Foto: Freepik

Quando a situação de agressão não é interrompida, além dos danos diretos somam-se a eles o sentimento de ter sido negligenciado, uma desesperança, baixa autoestima, dificuldade em confiar nas pessoas e em expressar suas vontades, tornando-a propensa a novas situações de violência”, aponta Alexandre Saldanha.

Se a criança relatar ser alvo de cyberbullying a orientação é de acolhimento. Faça com que se sinta à vontade para falar, valide seus sentimentos e explique que ela não é culpada pelo que está acontecendo. O próximo passo é não incentivar que revide as agressões e não apague o conteúdo, o ideal é tirar “prints” dessas telas contendo data e hora das ofensas.

“Com este material em mãos vá até um cartório e elabore uma ata notarial, faça um boletim de ocorrência na delegacia adequada, podendo ser a delegacia de crimes cibernéticos ou uma delegacia especializada em crimes contra a criança e ao adolescente. O passo seguinte é entrar em contato com a escola para que uma atitude possa ser tomada e o cyberbullying interrompido”, explica o advogado.

Maldade amplificada

Quando se trata de bullying e cyberbullying, é comum pensar que há apenas dois envolvidos: a vítima e o agressor. Mas os especialistas alertam para um terceiro personagem: o espectador. Enquanto um xinga, o outro chora e o resto cai na risada.

Por isso é essencial conversar em família sobre este tema e enfatizar a gravidade da situação, a intenção é que a criança desenvolva a noção de causa e efeito e de responsabilidade pelos atos praticados.

A escola e a família devem alertar os jovens sobre os riscos que a tecnologia pode representar. Ensine que os dados pessoais devem ser compartilhados com moderação e cuidado, afinal, adotar uma postura mais resguardada na internet é um modo de evitar que certas informações sejam usadas por terceiros de modo indevido.

Foto: Freepik

A escola deve proporcionar atividades práticas que promovam o desenvolvimento saudável dos alunos. “Dinâmicas que colaboram com a integração e a colaboração entre os alunos e que prezam por um convívio respeitoso e colaborativo são muito importantes. Não deve existir o conceito de melhor aluno, mas de alunos com diferentes habilidades que se completam e se aprimoram quando combinadas”, finaliza Alexandre Saldanha.

Por dentro dos termos difíceis

Você sabe o que é um hater? Já ouvir falar em revenge porn? Esses termos descrevem outras formas de violência relacionadas ao cyberbullying, confira:

Hater: é o nome dado as pessoas que disseminam o ódio no ambiente virtual, atacando outras pessoas com ofensas e humilhações de forma sistemática.

Sexting: consiste na troca de mensagens de cunho sexual, podendo ou não conter imagens de nudez das pessoas envolvidas. Quando há essa troca de imagens, o sexting torna-se ainda mais perigoso, porque pode ser distribuído por aquele que recebeu as imagens, ou hackers podem invadir os aparelhos e divulgarem o conteúdo.

Revenge porn: é o ato de divulgar imagens eróticas e de nudez de uma pessoa como forma de vingança e punição.

 

Juliana Borga é jornalista, três vezes vencedora do Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa. É mãe coruja da Helena e adora escrever sobre temas que colaboram para um mundo mais humano e solidário. Instagram: @juborgajornalista

 

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