O Beato Tiago Alberione (à direita) e a Venerável Irmã Tecla Merlo (à esquerda). Foto: Arquivo Paulinas
Uma mulher de escuta profunda da ação de Deus na sua vida e na história. Essa é Irmã Tecla Merlo, também conhecida como Primeira Mestra, escolhida para ser a primeira Filha de São Paulo e cofundadora da Congregação das Irmãs Paulinas.
Ao celebrar seus 60 anos de céu, vamos recordá-la em uma entrevista com o Fundador da Família Paulina, o beato Tiago Alberione, revendo seus pronunciamentos.
- Queremos começar a partir de algo muito especial em Tecla Merlo: como era seu olhar?
- Alberione: A Primeira Mestra via tudo em Deus, tudo a partir de Deus, tudo orientado para Deus, todas as ações visando a glória de Deus.
- Com uma missão tão grande, como Mestra Tecla reagia diante do perigo?
- Alberione: Lembro-me do dia, quando estávamos viajando para a América do Sul, o tempo estava tão feio que parecia que, de um momento para o outro o avião fosse cair. Dirigindo-se a mim, a Primeira Mestra disse: "E se Deus quiser que morramos aqui, seja feita a sua vontade! Eu estou pronta!" Este perigo aconteceu duas vezes, nas viagens da Argentina para o Brasil. Todos gritavam. Ela permanecia totalmente serena. Não se alterou por nada. Rezava por todos. Isto revela a sua confiança em Deus. É sinal de que a pessoa está totalmente abandonada à vontade de Deus.
"Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor!", diz São Paulo (Cf. Rm 14,8). Este era sempre o seu pensamento dominante. Toda a sua vida foi um conjunto de ocasiões para exercer a esperança. Assim terminou sua vida terrena.
- Comemora-se Santa Tecla em 23 de setembro. Esta santa é considerada a primeira mulher mártir e a padroeira dos agonizantes. Santa Tecla nasceu por volta do ano 30, em Seleucia, Turquia. Teresa Merlo, recebeu o nome desta Santa, na sua consagração: Irmã Tecla Merlo. Alguma semelhança entre elas?
- Alberione: A festa deste dia convida-nos à alegria, sobretudo porque a vida desta santa que culminou com o martírio, é um programa. Também a Primeira Mestra Tecla que tem o nome desta santa, tem um programa de vida. Se todas tivessem a piedade e a humildade que a Primeira Mestra tem, desfrutariam realmente, de uma grande paz, interior e exterior, mesmo nas dificuldades que são inevitáveis na vida, e que irão aumentando à medida que formos bons.
- Dava para descobrir os segredos de Mestra Tecla, dado que ela era tão discreta?
- Alberione: Sou testemunha da sua vida, desde 1915 até o final. A Primeira Mestra estava em contínua ascensão para Deus. Os seus segredos? Posso falar de dois segredos na sua vida, que são os segredos dos santos e dos apóstolos: humildade e fé. Humildade que a levava à docilidade. Fé que a levava à oração. Era frágil, quanto à saúde, mas forte quanto ao espírito. Tenaz e obediente até o sacrifício.
- Bem-aventurado Alberione, sabe-se que Irmã Tecla fez a oferta da própria vida. Como?
- Alberione: Muito bonita esta oferta. Estava em profunda união com a Santíssima Trindade, em Ariccia, na Itália, no dia 28 de maio de 1961, Mestra Tecla ofertou sua vida pela santificação de todas as Filhas de São Paulo presentes no mundo inteiro. Não somente por elas, mas também por aquelas que, no futuro, se uniriam ao seu sonho e ideal de vida: anunciar Jesus Mestre Caminho,
- Não foi no ano anterior que o senhor fez uma confidência às Filhas de são Paulo sobre Irmã Tecla?
- Alberione: Foi mesmo! No dia 15 de setembro de 1960, em preparação à festa de Santa Tecla, falei às Filhas de São Paulo: à Primeira Mestra vocês devem tudo, e eu também lhe devo muito, porque ela me iluminou e me guiou em coisas e circunstâncias felizes e tristes; foi conforto nas dificuldades que dificultavam a caminhada.
- Há 60 anos Irmã Tecla partiu definitivamente. Quais foram seus sentimentos naquela ocasião?
- Alberione: Recordo as palavras da Sagrada Escritura: “A mão do Senhor está sobre mim” (Is 61,1). Assim podia dizer, a Primeira Mestra.
Criando-a, o Senhor a revestiu com muitos dons, a predestinou à santidade e a acompanhar muitas pessoas no caminho de santidade. Depois, na pia batismal, o Espírito Santo infundiu nela graças particulares para a sua missão futura, e assim fez sucessivamente, por meio do sacramento da Confissão e da Comunhão.
A pequena plantinha foi circundada dos cuidados atentos da família, na paróquia, na escola e em todos os ambientes em que se encontrava.
Foi sempre dócil e generosa. Mais tarde conheceu a vida religiosa, frequentando a escola de trabalho do Instituto Sant’Ana.
Era uma jovem de saúde frágil, mas o Senhor faz aquilo que quer, servindo-se do que quer. É bom pensar que a santidade encontra sempre a sua base na conduta e na vida sabiamente humana. Primeiro devem existir as virtudes naturais, depois as virtudes sociais e familiares, então se constrói sobre estas virtudes o edifício das virtudes cristãs e religiosas.
Chamada por Deus para uma missão especial, com cerca de vinte anos, uniu-se ao pequeno grupo de jovens, que se preparavam para se tornar, com o tempo, as Filhas de São Paulo.
De saúde muito frágil, tanto que quando iniciou a nova vida se duvidava se poderia continuar. De fato, imediatamente começou a revelar a sua fragilidade física e a sua enfermidade. Mas o Senhor interveio também nisso. Assim que, com a graça divina, com a sua fortaleza e prudência, chegou aos setenta anos de idade, assumindo compromissos muito delicados e contínuos. Sempre frágil, mas sempre forte, quando era necessário para a sua missão.
O tirocínio do Instituto das Filhas de São Paulo foi laborioso. Tratava-se de uma missão nova. Naquele tempo a Primeira Mestra foi muito instruída pelo Cônego Chiesa, por isso abriu a sua mente e o seu coração às pessoas; aprendeu a conhecer os meios técnicos e a sua importância para a difusão do bem.
Foi uma ótima catequista na Paróquia de São Cosme e Damião, em Alba, Roma. Das virtudes cristãs chegou ao exercício das virtudes religiosas. Assim preparada e amada pela sua bondade, sempre humilde e exemplar, foi encarregada da comunidade, ofício este que realizou até o último dia de sua vida.
Venerável Irmã Tecla merlo, cofundadora da Congregação das Filhas de São Paulo. Foto: Arquivo Paulinas
Acreditamos que, agora do céu, protege a sua Congregação.
No seu ofício de governo usava, mais do que tudo, o exemplo, e considerava a oração o meio insubstituível. As suas ordens eram suaves. Todas as Filhas de São Paulo podem testemunhá-las. Para as Filhas de São Paulo tratava-se de uma vocação nova. Ela as dirigia e apoiava. Nas dificuldades, era sempre como o óleo na engrenagem. Um dia, em Turim, disse: “De agora em diante precederei estas filhas, para encorajá-las, para defendê-las dos perigos e ensinar como apresentar-se e como comportar-se na difusão de livros”. A preparação das Constituições, a aprovação, as igrejas, as casas novas, o crescer contínuo das vocações, a administração, num novo Instituto, um pouco singular. Tudo isso apresentava, certamente, muitas dificuldades, que ela resolvia especialmente com a adoração ao Santíssimo Sacramento.
A história interna e externa do Instituto, a sua vida, as suas virtudes são notáveis. As Filhas de São Paulo a conhecem bem. Cada dia uma nova página edificante e encorajadora. Não só as Filhas de São Paulo, na Itália, conhecem o seu espírito paulino e o apostólico, mas também aquelas do exterior. Constatei isso no ano passado durante as visitas que pude realizar.
Destas virtudes vieram os resultados no apostolado, em tantas Nações, às quais outras se unem neste ano. De fato, ainda hoje estamos abrindo Casas em novos lugares para levar a mensagem da salvação com os instrumentos da comunicação.
Muitas vezes agia no escuro, com riscos e aceitando aquilo que não apreciava. Mas a virtude superava as dificuldades.
A sua fé a levava à oração. Cada um que teve a oportunidade de aproximar-se dela, conhece o espírito de oração de onde vinha a sabedoria para governar, reconhecida por todos.
Outro dia, o Cardeal Larraona dizia a um dos nossos sacerdotes: “Mestra Tecla foi a pessoa mais prudente que conheci na minha vida”.
Precisa ainda acrescentar que ela se circundou de colaboradores bem escolhidos; como bem escolhidas foram por ela as pessoas enviadas para iniciar as Casas fora da Itália. Algumas vezes a escolha não parecia ser a mais sábia; mas os fatos demonstravam que ela era guiada pelo Espírito de Deus. Vale aqui recordar que ajudou todas as iniciativas, todas as Congregações Paulinas até a última, as Irmãs Apostolinas. Quantos conselhos deu nos encontros com as Irmãs das outras Congregações Paulinas....
A Primeira Mestra não era somente uma superiora, ela era a mãe do Instituto. Tereis outras superioras, que realizarão o ofício e seguirão o exemplo da Primeira Mestra; não serão, porém, a Mãe. Por isso, estudar o seu espírito, recordar os seus exemplos, ler aquilo que ela escrevia e, particularmente, seguir os seus exemplos, os avisos, as conferências, que ela sabia apresentar no momento justo e de maneira tão digna e boa que tudo era acolhido e entrava no coração.
Agora, duas conclusões: a primeira é sufragar a sua alma. Os sofrimentos que teve durante a sua vida e os que teve na sua última doença foram certamente santificadores e purificadores. Temos, todavia, a obrigação de sufragar a sua alma. Nesta manhã comecei as Missas Gregorianas. Ontem celebrei a Missa, em Albano, para pedir e iniciar os sufrágios, através da Santa Missa. Hoje, o seu corpo voltará aqui. Todas devem recordar aquilo que ela ensinou e os exemplos que deu.
Foto: Arquivo Paulinas
Segunda conclusão: a Primeira Mestra ensinou o caminho com muitos sacrifícios e com passos difíceis que, às vezes, pareciam de risco. Era de saúde frágil, mas forte de espírito; tenaz e obediente até o sacrifício. E o Senhor recompensou as suas virtudes. Por isso, seguir os seus exemplos, seguir o seu espírito religioso e o seu espírito apostólico.
Quantas vezes manifestava o desejo de levar um pouco de bem às pessoas, para levar um pouco de luz ao mundo! Ela seguiu bem as três devoções principais: a Jesus Mestre, à Rainha dos Apóstolos e a São Paulo Apóstolo. Então: seguir o caminho traçado pela Primeira Mestra que é um caminho rumo à perfeição, um caminho de contínuo desenvolvimento do Instituto.
Ultimamente fazia notar a necessidade de escolher bem as vocações e iniciá-las no apostolado. Introduzi-las bem, porque esta é a cor, a característica da vida religiosa paulina. Eis, portanto, as duas consequências, as duas resoluções: continuar os sufrágios pela sua alma e seguir os seus exemplos e os seus ensinamentos.
- Agradecemos ao bem-aventurado Pe. Tiago Alberione, também de feliz memória, que nos ajudou a recordar a pessoa encantadora e grande missionária da comunicação, primeira Filha de São Paulo e cofundadora da Congregação das Irmãs Paulinas. E lhe fazemos uma última pergunta: podemos sugerir a cada Filha de São Paulo que se inspire em Mestra Tecla?
- Alberione: Com certeza! Toda Filha de São Paulo, espelhe-se na vida e nas virtudes da Mãe e Primeira Mestra Tecla, imitando-a:
- em união contínua com Deus;
- em sua serenidade de espírito nos acontecimentos da vida;
- em seu conhecimento e amor por toda Filha de São Paulo;
- em seu espírito e docilidade às disposições de Deus;
- em querer, considerar e reassumir sua vida de fé, esperança e caridade.
Ela foi dócil instrumento nas mãos de Deus: com sua colaboração e caridade, fizemos muito progresso. Elevem o olhar para o alto! Ela continua a nos guiar, a nos ajudar a perseverar na vocação e a convidar-nos para o céu.
Fonte: ZANELLI, Adriana e VANZETTA, Maria Renata, fsp. A PRIMEIRA MESTRA NO TESTEMUNHO DO PADRE ALBERIONE, Paulinas, São Paulo,1992.
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